Gazeta do Povo (PR)
Levantamento da Paraná Pesquisas mostra que metade dos entrevistados já sofreu com xingamentos no trânsito de Curitiba e aposta em medidas educativas para combater a violência
por Fabiane Ziolla Menezes
Pouco mais de uma semana depois que o arquiteto Luiz Henrique Dias, 39 anos, foi agredido com uma barra de ferro na Avenida Marechal Deodoro por um motorista destemperado, um levantamento da Paraná Pesquisas feito com 400 moradores de Curitiba mostra que a maioria acha os condutores da cidade mal educados (60%) e grande parte os considera desrespeitosos com os outros motoristas (42%). Mais. A pesquisa também aponta que quase metade dos habitantes da capital já sofreu alguma forma de humilhação, entre xingamentos (52%) e gestos obscenos (43,5%), que, por vezes, são o estopim para cenas de violência tão frequentes no trânsito de grandes cidades. ''Até o ocorrido eu considerava, de certa forma, normal brigar no trânsito. Hoje em dia não acho. Aliás, tenho dirigido com muito cuidado, medo mesmo de fazer qualquer coisa errada que possa provocar uma briga'', desabafa Dias, que ainda espera uma convocação da polícia para depor sobre o episódio.
Uma das principais reclamações do arquiteto, além da falta de educação dos motoristas em geral, é a ausência da polícia na rua. ''Demoraram 45 minutos para chegar. Se o cara estivesse armado, eu já estaria morto. Se não fosse pela população – um rapaz que o segurou quando ele [o agressor] tentou avançar pela segunda vez, uma enfermeira que me acudiu até a ambulância chegar e outra pessoa que levou minha esposa, que não tem habilitação, para o hospital – não sei o que seria de mim.''
Até o fechamento desta reportagem, a assessoria de imprensa da Polícia Militar não informou quantas brigas de trânsito chegam ao conhecimento dos policiais em Curitiba, mas os números de São Paulo, outra grande cidade brasileira, dão um indicativo do problema: uma média de 400 ligações por dia.
Enquanto os moradores da capital paranaense apontam um conteúdo reforçado de educação no trânsito como antídoto para o combate à violência no meio (48,25%), os especialistas vão além. Para eles, o trânsito tem sido válvula de escape para os problemas das pessoas em geral, o que demandaria soluções mais profundas do que apenas o aprimoramento das aulas na auto-escola. ''A sociedade está em crise, com um sentimento de que falta tempo para tudo, e está descontando toda a sua neurose no trânsito'', opina o professor do curso de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Lindomar Wessler Boneti.
O doutor em Psicologia e membro do Conselho Federal de Psicologia da Câmara do Conselho Nacional de Trânsito Fabian Javier Marín Rueda, natural do Uruguai, lembra que muito se investe nas vias públicas no Brasil e pouco na educação no trânsito, que é algo de longo prazo. ''Na Europa, na Finlândia, por exemplo, os índices de acidentes são mínimos porque há 40 anos se investe em uma política de educação no trânsito''.
Tanto Rueda quanto o especialista em Direito de Trânsito e presidente de uma das Subseções da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP), Maurício Januzzi Santos, falam da necessidade de maior rigidez para tirar e manter a carteira de habilitação. ''Em Montevidéu, por exemplo, a prova teórica é bastante rigorosa com relação às leis de trânsito e a prova prática exige comprovação de habilidade para dirigir no centro da cidade e na estrada'', conta Rueda. ''No Brasil, as aulas e o exame atuais não preparam o motorista no sentido da não-violência e do uso racional do carro. Sou a favor, por exemplo, de que o motorista tivesse um histórico registrado em seu nome e que esse histórico fosse avaliado a cada renovação de carteira'', sugere Santos.
Confira alguns depoimentos deixados pelos leitores do blog Vida e Cidadania ao longo da semana:
''Todo dia saio de casa para levar meus filhinhos à escola e minha esposa ao trabalho. O que vejo no trânsito é um grande campo de batalha, muita estupidez e outras coisas do gênero. Daqui a pouco, o Detran vai ter de lançar o serviço de direção com um pacote de defesa pessoal.''Moacyr de Oliveira Monteiro.
''É inevitável não ficar estressado, porém, penso que isso é causado pelo excesso de demanda que frequentemente temos no emprego, faculdade, etc. Algumas pessoas entram no carro e não se desligam dos problemas. Como consequência, ocorre a falta de atenção ao dirigir, que causa todo o tipo de situação. Mas estressar-se apenas nos leva a ter atitudes e comportamentos inadequados e agressivos.''Jader Duvale.
''A grande maioria dos motoristas é mal educada. Não conhece as leis de trânsito, não respeita as leis e muito menos seu próximo. Usa celular em trânsito, não respeita sinalização e circula nas vias equilibrando-se sobre as faixas.''Luiz Carlos Ferencz
Pouco mais de uma semana depois que o arquiteto Luiz Henrique Dias, 39 anos, foi agredido com uma barra de ferro na Avenida Marechal Deodoro por um motorista destemperado, um levantamento da Paraná Pesquisas feito com 400 moradores de Curitiba mostra que a maioria acha os condutores da cidade mal educados (60%) e grande parte os considera desrespeitosos com os outros motoristas (42%). Mais. A pesquisa também aponta que quase metade dos habitantes da capital já sofreu alguma forma de humilhação, entre xingamentos (52%) e gestos obscenos (43,5%), que, por vezes, são o estopim para cenas de violência tão frequentes no trânsito de grandes cidades. ''Até o ocorrido eu considerava, de certa forma, normal brigar no trânsito. Hoje em dia não acho. Aliás, tenho dirigido com muito cuidado, medo mesmo de fazer qualquer coisa errada que possa provocar uma briga'', desabafa Dias, que ainda espera uma convocação da polícia para depor sobre o episódio.
Uma das principais reclamações do arquiteto, além da falta de educação dos motoristas em geral, é a ausência da polícia na rua. ''Demoraram 45 minutos para chegar. Se o cara estivesse armado, eu já estaria morto. Se não fosse pela população – um rapaz que o segurou quando ele [o agressor] tentou avançar pela segunda vez, uma enfermeira que me acudiu até a ambulância chegar e outra pessoa que levou minha esposa, que não tem habilitação, para o hospital – não sei o que seria de mim.''
Até o fechamento desta reportagem, a assessoria de imprensa da Polícia Militar não informou quantas brigas de trânsito chegam ao conhecimento dos policiais em Curitiba, mas os números de São Paulo, outra grande cidade brasileira, dão um indicativo do problema: uma média de 400 ligações por dia.
Enquanto os moradores da capital paranaense apontam um conteúdo reforçado de educação no trânsito como antídoto para o combate à violência no meio (48,25%), os especialistas vão além. Para eles, o trânsito tem sido válvula de escape para os problemas das pessoas em geral, o que demandaria soluções mais profundas do que apenas o aprimoramento das aulas na auto-escola. ''A sociedade está em crise, com um sentimento de que falta tempo para tudo, e está descontando toda a sua neurose no trânsito'', opina o professor do curso de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Lindomar Wessler Boneti.
O doutor em Psicologia e membro do Conselho Federal de Psicologia da Câmara do Conselho Nacional de Trânsito Fabian Javier Marín Rueda, natural do Uruguai, lembra que muito se investe nas vias públicas no Brasil e pouco na educação no trânsito, que é algo de longo prazo. ''Na Europa, na Finlândia, por exemplo, os índices de acidentes são mínimos porque há 40 anos se investe em uma política de educação no trânsito''.
Tanto Rueda quanto o especialista em Direito de Trânsito e presidente de uma das Subseções da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP), Maurício Januzzi Santos, falam da necessidade de maior rigidez para tirar e manter a carteira de habilitação. ''Em Montevidéu, por exemplo, a prova teórica é bastante rigorosa com relação às leis de trânsito e a prova prática exige comprovação de habilidade para dirigir no centro da cidade e na estrada'', conta Rueda. ''No Brasil, as aulas e o exame atuais não preparam o motorista no sentido da não-violência e do uso racional do carro. Sou a favor, por exemplo, de que o motorista tivesse um histórico registrado em seu nome e que esse histórico fosse avaliado a cada renovação de carteira'', sugere Santos.
Confira alguns depoimentos deixados pelos leitores do blog Vida e Cidadania ao longo da semana:
''Todo dia saio de casa para levar meus filhinhos à escola e minha esposa ao trabalho. O que vejo no trânsito é um grande campo de batalha, muita estupidez e outras coisas do gênero. Daqui a pouco, o Detran vai ter de lançar o serviço de direção com um pacote de defesa pessoal.''Moacyr de Oliveira Monteiro.
''É inevitável não ficar estressado, porém, penso que isso é causado pelo excesso de demanda que frequentemente temos no emprego, faculdade, etc. Algumas pessoas entram no carro e não se desligam dos problemas. Como consequência, ocorre a falta de atenção ao dirigir, que causa todo o tipo de situação. Mas estressar-se apenas nos leva a ter atitudes e comportamentos inadequados e agressivos.''Jader Duvale.
''A grande maioria dos motoristas é mal educada. Não conhece as leis de trânsito, não respeita as leis e muito menos seu próximo. Usa celular em trânsito, não respeita sinalização e circula nas vias equilibrando-se sobre as faixas.''Luiz Carlos Ferencz
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